terça-feira, 8 de junho de 2010
De papel
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Fábula
Montei mundos coloridos em velocidades que, por vezes, apenas se esconde o cinza. E sorri para pequenezas que na verdade doíam, tentando que o mundo visse força, acima de meus cacos.
E no meio de encruzilhadas, percebi que precisava de sentidos. Mas acabei seguindo rumos e deixando que desejos rotos me guiassem ao que queria, quando faltava ciência do que fosse necessário.
Por tantas pedras tropecei sem me deixar caída, no quanto me privei, mas devia ter sentido. E no esquecimento me fugiu que cortes leves não destroem e cicatrizes algum dia serão memórias. Então agora me confundo sem saber se caí no problema de crer em soluções de fim de história (ou se ainda acredito em promessas de papel). Tateio no escuro e me atiro alto. Respiro odores vários, selecionando cheiros. Saboreio e regurgito. E tapo os olhos com a fé de ver além.
Enquanto a vida novamente grita “lobo” em meu ouvido.
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Let it be....
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Esta é na verdade uma segunda "Fábula".
A primeira, que sim, uma real fábula, dizia de minha avó - "Uma Fábula"
terça-feira, 6 de abril de 2010
Há dias que não sei falar
terça-feira, 30 de março de 2010
Oferendas e mensagens em garrafas
Eu brinco de criar motivos, razões, circunstâncias.
E brinco de me culpar por algo em que não me atinge a culpa.
Eu brinco de acusar, na praia, cachorros distraídos pelo fim do castelo de areia, tentando me esquecer que ao longo do dia o balanço do mar foi quem ruiu a estrutura que ali optei por construir.
Esqueço-me que o caos das águas também forma, por si só, esculturas na areia áspera e nas rochas que se atrevem a ficar.
E que não adianta modelar formatos quando as águas vão passar.
Porque escolhi ser ilha e me cercar do inconstante.
Porque escolhi ser terra e me firmar.
Porque escolhi o instável para firmar pilares de areia e pedra, e me uni ao balanço do mar como plano de fundo pra toda arte final.
Esperando a cada troca de maré ser mais ilha, ser mais mar.
Eu brinco de esquecer motivos, razões, circunstâncias.
E brinco de me aliviar por algo em que não me atinge o alívio.
Eu brinco de relevar, no mar, o leme torto pelo rumo do navio, tentando me lembrar que ao longo da noite a calma da terra foi quem atraiu ao caminho sem escolha de seguir.
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Tudo que vem, tudo que vai.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Sobre enxergar além
Da janela principal nós aprendemos a enxergar. É pra ela que olhamos ao sair dos quartos, e pra ela que fugimos quando as lagrimas vem. É nela que recostamos nas melhores risadas, nos grandes momentos. No meu caso, acostumei a dormir em frente à mesma. Seja olhando pelo reflexo os carros da rua, que ali parecem voar, ou seja debruçada nas insônias intermináveis.
Sempre ao cair da noite, é possível ver, um andar abaixo, uma TV que é ligada por uma senhora que parece acompanhar nossa falta de sono. Ela fica ali sentada, como se a programação habitual fosse mero enfeite para sinalizar que está presente. Às vezes se levanta, tira ou põe um roupão surrado, mas nunca olha pela janela. Talvez por que da dela, ela não teria a resposta que temos.
A torre mais alta acende suas luzes de um azul cintilante e chamativo, anunciando que o movimento apenas começa no observatório, no restaurante, na casa noturna. Desafiando os que a observam a se tornarem, de lá, observadores. Talvez de lá, a vista tenha mais brilho. Mais das luzinhas cintilantes que me fascinam, mas sem o sentimento de posse que nossa vista me traz.
Nas janelas pequenas, camas são feitas, desfeitas, usadas. Pessoas passam aos meus olhos por aqueles pequenos quadrados, como quem zapeia irritantemente canais na televisão. Alguns desdenham, fecham cortinas, tapam a visão. Outros param, olham, mexem. Invariavelmente eles estão com minha imagem ao avesso. Enxergam o outro lado que, talvez, não tenha os comentários ou o mesmo brilho que a minha janela.
No hotel logo em frente as luzes nunca se apagam. O letreiro recebe aqueles que vêm e vão, muitas vezes ansiosos por chegarem em suas janelas próprias. E por toda noite, o apagar, acender e manter das luzes nos indica chegadas, partidas, ou suposições de medos do escuro. Talvez o exagero de janelas ali deixe nossas imaginações, aqui, sortidas demais.
Das ruas que se pode ver, parece que nada ficará estático. Sirenes, buzinas, freiadas, gritos e os sons dos ônibus que transitam levando, em janelas, quem termina e quem começa seu dia. E o inconfundível som das conversas que nos chegam como murmúrios. Talvez, daqui de cima, o mundo seja outro, enxergado lá de baixo com uma percepção que talvez eu não seja mais capaz de ter.
Aos poucos as luzes vão se apagando, as cortinas se fechando e as janelas vão tomando ares enfadonhos e monótonos. Daqui fica-se à espreita de uma surpresa sorrateira, como uma insônia repentina na terceira janela da segunda fileira do prédio número três. Ou uma continuação de festa na cobertura do prédio um. Quem sabe, por que não, um sexo distraído em algum dos quadrados pequenos. Talvez a gente passe a noite fantasiando aventuras para cada pequeno quadro bisbilhotado.
Em certo ponto sempre se entra em contradição. A cidade dorme, a cidade nunca dorme. E da minha janela, fica a espera de que o dia comece a clarear e os pequenos quadradinhos mudem de cor. Da nossa janela ficam aventuras, lembranças e saudades demais pra quem vê em janelas, apenas janelas.
Da nossa janela, é irônico dizer o que vemos. Construímos um mundo.
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Aos queridos Brê, May, Pedro, Pri, Raul, Pablo, Cappie, Lívia e Lucas. Mas especialmente a Mari e Anilton. Por todos os dias, que juntos, exergamos além. E construimos mundos.