Eu brinco de criar motivos, razões, circunstâncias.
E brinco de me culpar por algo em que não me atinge a culpa.
Eu brinco de acusar, na praia, cachorros distraídos pelo fim do castelo de areia, tentando me esquecer que ao longo do dia o balanço do mar foi quem ruiu a estrutura que ali optei por construir.
Esqueço-me que o caos das águas também forma, por si só, esculturas na areia áspera e nas rochas que se atrevem a ficar.
E que não adianta modelar formatos quando as águas vão passar.
Porque escolhi ser ilha e me cercar do inconstante.
Porque escolhi ser terra e me firmar.
Porque escolhi o instável para firmar pilares de areia e pedra, e me uni ao balanço do mar como plano de fundo pra toda arte final.
Esperando a cada troca de maré ser mais ilha, ser mais mar.
Eu brinco de esquecer motivos, razões, circunstâncias.
E brinco de me aliviar por algo em que não me atinge o alívio.
Eu brinco de relevar, no mar, o leme torto pelo rumo do navio, tentando me lembrar que ao longo da noite a calma da terra foi quem atraiu ao caminho sem escolha de seguir.
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Tudo que vem, tudo que vai.