sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A dança

O primeiro passo soou desconexo. Enquanto não se permite sentir o ritmo, não se acredita saber dançar. Qualquer um sabe dançar, de acordo com o ritmo a que se entrega. Não digo da dança bem coreografada. Apesar de amar a dança com este viés, aprendi que dançar ultrapassa o limite dos passos e se resume a sensações. Toda dança é por fim um simples encontro. E um bom encontro, como uma boa dança, tem passos casados e ritmos, que com um fechar de olhos, transportam.

A segurança em acreditar saber dançar te possibilita, ao sentir a aproximação do som, o risco do primeiro passo. Não que uma dança solo não te satisfaça. Mas certos ritmos te convidam ao par. Por mais segura de sua dança, uma pessoa comum sempre repensa o primeiro passo. Dá-lo, te classifica extraordinário diante de seu orgulho próprio. Primeiro os olhos convidam, as palavras chamam e por fim a aproximação dos corpos, à mercê do som, atrai.

As notas iniciais da música já se passaram e os acordes soam como um prefácio bem escrito, atraindo um leitor sedento às próximas páginas. É quando finalmente os músicos deixam de lado os atrativos e fazem com que toda a pista reconheça a canção. Conhecendo a música, os passos desconexos ganham a mínima firmeza de acreditar que estão em solo conhecido. Mas e se de repente a velha canção ganhou novos arranjos?

Os corpos já não querem se perder do ritmo e se enlaçam a cada virada. Braços, mãos, pernas e troncos se unem como que desesperados por uma sincronia que acontece naturalmente. E se percebe que braços, mãos, pernas e troncos se tornaram apenas artifícios para manter corpos unidos, testando os limites da sincronia tão natural. Antes de se perceber, eis a dança.

Do suave balé, ao agressivo tango, a dança te consome. Te desgasta, exaure e, principalmente, te tira o fôlego. O suor, os músculos tensionados, o coração a mil. Você sente a dança das formas mais violentas e surpreendentes. Mesmo assim continua a dançar. E a canção parece que te ajuda. Ela deixa notas que fazem pender a cabeça no colo que te acompanha, levando à fragilidade desta entrega.

Nas grandes danças, os últimos acordes são como o fim de um chocolate que derreteu rápido demais, deixando na língua um gosto de gula, de mais. Entretanto, na dança, o jogo de sensações de deixa além de gostos. São tatos, visões, cheiros e sons quase inaudíveis que muitas vezes te instigam a continuar dançando, e dançando, e dançando.

É, pois então, a grande verdade das boas danças de salão (tão aparentemente cercadas e tão imensamente livres). Elas pertencem a dois. Por mais que o resto das pessoas insistam em avaliações, correções e medidas, todo o encanto dos movimentos são legíveis apenas pelos que se permitiram dançar. Só a eles interessam os passos, os pisões, a sincronia, o suor e os sentidos.

Assim, ao que o som de esvai e os olhos se abrem, você percebe que tudo ao redor continua o mesmo e ao mesmo tempo tudo ao redor de você mudou. Um bom parceiro te enlaça a cintura novamente e continua no ritmo da nova canção que se iniciou ali. E todas as canções já te pertencem, já que você sabe dançar. Os olhos se fecham novamente, para que num suave murmúrio você peça: “Me avise apenas quando a nossa canção acabar”, sem saber que algumas canções são quase eternas, como o saber dançar.

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Eu não voltaria aqui antes de um novo, belo e arrojado layout. Mas meu talento pra coisa é nulo.

Do antigo eu simplesmente cansei, não quero mais mesmo! E hoje senti falta de estar aqui, de deixar aqui a minhas idéias soltas e embriagadas. Então fica assim até eu resolver o problema.

Obrigado aos novos visitantes e lhes devo sérias visitas. Por agora, desculpem, mesmo!