quinta-feira, 14 de maio de 2009

Há 20 anos atrás...

eu já te amava há 9 meses.

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14 de maio de 2009, os afinal 20 anos da minha irmã mais nova.

Desde 1989 uma data determinante pra mim! =)

Esquadros

(Adriana Calcanhoto)

Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!

Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Recado

Boa, tarde.
Boa noite.
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Assim, bem simples.
E não, não sou sem coração e esqueci o dia das Mães. Maezinha tava aqui, do lado.
Ainda em Vitória, a vida prossigo.

domingo, 10 de maio de 2009

Uma fábula

Aos dois anos ela veio da itália com os pais para o interior, do interior do estado de Minas Gerais. Os pais, junto com tantos outros, formariam um novo lugarejo.
A tradição católica rigorosa a acompanhou por toda a vida. Casou-se aos catorze, em uma época em que isso era comum. Passou aos filhos, aos netos e aos bisnetos cada preceito religioso que a si fora ensinado.
Já adultos os bisnetos não se esqueceriam das tradicionais semanas santas, passadas no vilarejo e regadas de muito bacalhau e peixes frescos, consumidos por toda carnívora família, temerosa da heresia de se comer carne vermelha nos dias sagrados.

Com 91 anos perdeu o marido e, na fuga da falta dos 77 anos conjugais, saiu de seu vilarejo para morar com uma filha. Um mundo novo se apresentou.
Um dia, a família reunida questiou porque ela, vinda da Itália, fazia muitas massas, mas nenhuma pizza. "Eu já ouvi falar muito, mas nunca comi isso, a tal pizza". Se apaixonou pela calabresa.

Aos 96 já era sabido que uma simples (para adultos e jovens fortes) gripe estava a levá-la, aos poucos, de todos.
A semana santa se proximava e, no hospital, os filhos se preocupavam em garantir que o cardápio para a adoentada resguardasse a tradição de tanto bacalhau.
Na quarta-feira, já bem debilitada, recebeu como jantar uma quente sopa de legumes.

"Não quero essa sopa"
"Mas mamãe, a senhora tem que comer, se fortalecer" - insistia uma filha já preocupada.
"Claro que quero comer. Mas quero pizza. De calabresa" - e sorriu como uma criança que faz arte.

(Se queres tomar esta como uma crônica de comportamento, encerre aqui sua leitura. Com a boa velinha e heresia. Mas o título já o avisou de esta ser uma fábula, e para chegarmos a isso, há o desenrolar dos fatos)


De pronto o pedido foi atendido. Claro que não foi tão simples. Além dos olhares, se ouvia de um ou outro "É... acho que ela já está perdendo a sanidade" ou "Mas ela? Ela mesmo pediu com carne?".

Ela devorou a pizza. Uma das bisnetas, que já comia carne desde a segunda, aproveitou de sua juventude e perguntou o porque daquele ato (e ganhou um beliscão da mãe).

Tranquilamente, a velha se recostou na maca com o pedaço de pizza na mão e olhando para ele começou "Tem coisas que demoramos por descobrir" - e olhando para a neta, concluiu

"E de tudo o que descobri nessa vida tão longa, o que mais me importa é perceber que conhecendo toda gente, e me estando bem com Deus, digo com muita tranquilidade: o grande problema não é o que colocamos pra dentro de nós, mas o que de dentro de nós sai".

Três dias depois ela se foi.



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Não importa o quanto se esforça em meios, jeitos, atividades e dietas para tornar melhor o corpo, o organismo, a digestão ou a sociedade.
Nossas reações nos tornam humanos, e a maldade que algumas vezes sái de dentro de alguns os tornam podres por dentro.

A moral da história é até mais simples que isso, cada um que tire a sua.


Hoje a melancolia habitual me levou à nostalgia de meus feriados santos até 2003, quando a bisa Geralda se foi.

Prólogo

"Se o mundo inteiro
Me pudesse ouvir
Tenho muito prá contar
Dizer que aprendi...

E na vida a gente
Tem que entender
Que um nasce prá sofrer
Enquanto o outro ri.." ¹


Cada palavra que aqui transcrevo tem sua essência retirada de fatos a mim ocorridos ou passíveis ao alcançe dos meus olhos. Há de se ressaltar, entretanto, que a transposição entre meus olhos e ouvidos até minha mente, e depois ao papel (ou diretamente à tela do computador), passa pelo crivo ficcionalizador da crônica, que me ajuda a enxergar o mundo p&b em bons tons de aquarela.

Quisera eu ser uma cronista do cotidiano. De sentar em cafés ou praças e tirar, do passar e repassar de gentes, a gota de inspiração que move a escrita mais inspirada ou simplesmente as palavras necessárias. Minha musa é a humanidade com suas vitórias e conquistas, mas pricipalmente com suas mazelas e sofreguidões, talvez por estas me levarem sempre às dores das minhas próprias.

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¹ Azul da cor do mar, Tim Maia