terça-feira, 21 de julho de 2009

Reticências

"O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
O que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
O que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita"
O que será (À flor da pele) - Chico Buarque

Quantos amores você teve em que, após um ou dois anos juntos, o coração acelerava, as mãos suavam, os olhos brilhavam e corpo todo sorria à mínima aproximação, ao mínimo pensamento?
Nenhum – ele disse após um silêncio esforçado. Tentava, como sempre há de ser entre nós, quebrar de alguma forma a idéia de que isso é real.
De pronto eu disse que esta foi a mesma resposta que me dei.
Não estávamos juntos, entretanto nunca estivemos separados.
Mas, lá estávamos nós, três anos depois do primeiro contato ainda ruborecidos pelos sentimentos e sentindo as mesmas borboletas no estômago.
Uma frase é sempre recorrente. Não sei o que há entre nós.
Parece um imã. Com seus dois lados que se buscam. Ou se repelem, ou se atraem. Uma música que eu gosto diz, "os opostos se distraem, os dispostos se atraem".
Mesmo quando nos falta disposição e o corpo parece que não vai mais agüentar, o destino nos une de novo.
Já são anos. Anos.
E eu esperei, como fui esperando todos esses anos.
E não deixei de amar. Nem por um segundo.
Eu nunca fui. Não por um pedido de “espere”. Não porque confiei que viria.
Não fui porque não queria tornar outro mundo confuso, quebrado.
Já fizemos isto com as nossas vidas uma vez. Já nos quebramos e colamos cada pedacinho...
E talvez nosso erro foi, por engano ou distração, colar um no outro os pedaços que são tão iguais.
E agora?
Agora não me peça desculpas.
Sabe que odeio pedidos de desculpa vãos.
Não sou triste. Também não sou feliz. Sou viva, vida. E dela me componho altos e baixos.
Me apaixonei, e as paixões bem criadas seguem seu curso de se tornar amor.
Amei, amo, e entendo meus amores. O amor fraterno, o amor de amigo, o amor família.
O nosso amor ainda são pedaços. Quebrados e colados, perdidos e achados.
O nosso amor ainda é o que eu também não entendo.
Hoje, li muito Clarice Lispector.
Uma frase me fez pensar muito e agora entendo.
"Perder-se, também é caminho"
Já tentei dar muitos “Adeus”. Não o faço agora. Sinto, nos dias mais cinzas, dores e delícias. Mas sei.
Seja qual for o caminho, ele existe.

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No fundo minha cabeça maluca me confunde. Mas sei que às vezes músicas são apenas músicas, e textos são apenas textos.

Pela wikipédia, "Reticências "indicam um pensamento ou ideia que ficou por terminar e que transmite, por parte de quem exprime esse conteúdo, reticência, omissão de algo que podia ser escrito, mas que não o é"
Reticências, como um "assunto" de um email qualquer.