terça-feira, 14 de abril de 2009

O futuro nas mãos

Não era quiromancia. Na verdade nunca fui adepta desta prática, me mesmo gosto de mãos, talvez por cuidar tão mal das minhas. Antes de hoje, o que mais me lembrava mãos eram as ciganas perdidas pelo centro da cidade te oferecendo o futuro desvendado em troca de algumas moedas.
Agora concordo com ela que o futuro está nas mãos.

Ela entrou cheia de vitalidade e um sorriso estampado. Cumprimentou conhecidos e desconhecidos, como quem chega num samba com roupas coloridas e pés inquietos. Sentou-se ao meu lado, pedindo licença e exalando um odor que me fez lembrar minha avó! Aquele cheirinho de leite de rosas, o original, quase um talco.

A viagem depois daquilo durou alguns poucos minutos. Mas a imagem que fica é a da mão. As unhas apesar de bem cuidadas não estavam feitas e dava pra ver algumas daquelas calcificações forjadas pelo tempo. Rugas, manchas, veias looongas, compridas, saltadas. Ali se via o sol, o trabalho...
A aliança um dia fora dourada brilhante, e agora, sinceramente, me lembrava um ocre de tão pálida. Aí a cabeça imaginava aquelas mãos segurando crianças, lavando roupas, mexendo as colheres no fogão.

As mãos falavam por si, mais do que os fios brancos cobertos por tintura marrom ou o rosto maquiado. As mãos falavam por si, falavam por mim e falavam das minhas mãos e um dia poderão me dizer quiçá de filhos, arrumações e panelas, ou mostra pequenos calos do lápis e do teclado. Quem sabe dos dois, quem sabe de nenhum. O futuro nas minhas mãos.

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